Audiência debate denúncias de violência policial em Londrina
11 de maio de 2025

Matéria publicada pela Folha de Londrina
Londrina recebeu na última quinta-feira (8) uma audiência pública organizada pela Comissão de Direitos Humanos e da Cidadania da Alep (Assembleia Legislativa do Paraná) para discutir as denúncias de violência policial na cidade. O encontro ocorreu na sede da OAB (Ordem dos Advogados do Brasil) e contou com a presença de lideranças políticas e de familiares de jovens mortos em supostos confrontos.
Um dos casos de maior repercussão - e que motivou a audiência - envolve os jovens Kelvin Vieira dos Santos, 16, e Wender Natan da Costa Bueno, 20, mortos em uma abordagem policial no Jardim Santiago (zona oeste), no dia 15 de fevereiro de 2025. A ação dos quatro policiais militares será julgada pelo Tribunal do Júri.
O deputado estadual Professor Lemos (PT), que preside a comissão, afirmou à FOLHA que o encontro buscou ouvir as famílias e as autoridades. Nenhum representante do governo Estadual, responsável pela PMPR (Polícia Militar o Paraná), compareceu à audiência pública.
"Trabalhamos na Alep para que se tenha investigação isenta, investigação que faça justiça, e que não permita que aconteça violência policial. E, quando ela ocorrer, que de fato seja aplicada a lei", disse o parlamentar.
TRANSPARÊNCIA
Um dos encaminhamentos do encontro foi articular a aprovação da PL (Projeto de Lei) 448/2019 na Assembleia Legislativa. O texto obriga o uso de câmeras corporais pelos policiais militares e nas viaturas, mas segue parado em Curitiba. Também foi ressaltada a importância da transparência nas investigações desses casos.
Para a vereadora Paula Vicente (PT), o uso desses equipamentos é fundamental. "É o primeiro passo para que a gente avance na diminuição da violência policial", frisou Vicente, que destacou ainda que o MPPR (Ministério Público do Paraná) revisou e determinou a abertura da investigação de quatro supostos confrontos em Londrina. A decisão da Subprocuradoria-Geral de Justiça para Assuntos Jurídicos, que revisou 25 casos e reabriu sete no Paraná, foi destacada em reportagem publicaa pela Rede Lume e pelo portal Plural.
A deputada federal Lenir de Assis (PT) disse que os dados nacionais da violência policial "assustam". "A segurança pública existe para dar segurança para as pessoas. Os nossos equipamentos de segurança pública têm que dar conta, enquanto dever do Estado, de prover a segurança", afirmou a parlamentar.
O encontro ainda decidiu pela criação de uma comissão para acompanhar os casos suspeitos de violência policial e ressaltou a necessidade de atendimento psicossocial das famílias. A melhora das condições de trabalho dos agentes também foi um ponto discutido na audiência.
MÃES
Para Valdirene da Silva, mãe do jovem Anderbal Júnior, 21, morto em uma ação policial em março de 2022, em frente à UEL (Universidade Estadual de Londrina), e fundadora do movimento Justiça Por Almas, as abordagens violentas deveriam ser conduzidas de outra forma. Não se deve manter uma política de que "matar é a melhor formar", na sua opinião.
"O que fizeram com meu filho... Ele não tinha nenhuma passagem [pela polícia]. O outro menino que morreu não tinha, o que sobreviveu também não", disse. "Meu filho morreu com 22 tiros, como um animal abatido... um menino que nunca fez mal para ninguém na vida. É muito triste."
Mãe de Kelvin, Sirlene Vieira dos Santos, que coordena o movimento Mães da Bratac, acredita que o enfrentamento à violência policial passa pela vontade política do governo do Estado. "A maioria dos jovens e adolescentes mortos é no Paraná, principalmente em Londrina. Nós cremos que eles podem mudar usando as câmeras nas fardas, fazendo o [exame] toxicológico também, é o dever deles", afirmou. "Nem todos os policiais são executores, mas nossos filhos foram executados. Para mim e para a Vanessa [da Costa, mãe de Wender] foi uma execução. Nossos filhos levaram 15 tiros de fuzil, então não foi um confronto."
Para Vanessa, "através da vida deles vai vir a justiça" para outros casos de mortes em abordagens policiais. "Tem muitos casos escondidos que estão sendo reabertos. Eu creio que, através da vida deles, vai acontecer uma movimentação muito grande", completou.
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